sábado, 10 de maio de 2014

Mãe


Ela não tem pinta de heroína, passa despercebido pelas ruas e ninguém sabe sua história ou o que passa em seu mundo.
Sim, ela poderia ser personagem principal de um filme de ação, ou de romance, de comédia e até algumas vezes de suspense.
Ela nada tem que a faz diferente das demais.
Na adolescência teve as mesmas experiências que a pouco pediu, lutou, gritou para que você não tivesse. Egoísmo? Não, proteção. Ela sabe onde errou. E sabe as consequências que isso lhe causou. Fará de tudo para que você não repita os mesmos erros. Mal sabe ela que não tem jeito. Você prefere aprender pela vida, é mais desafiador e algumas vezes mais atraente. Mas você sabe que ainda assim, ela estará lá para quando seu mundo desmoronar.
Ela teve sonhos, você provavelmente esteve presente neles. Assim como você, ela ia chorar em algum canto escondido quando nada dava certo. Sim, ela tem um coração que chora, embora você sempre a viu sorrindo.
Sonhou encontrar o príncipe encantado, se iludiu algumas vezes e quando julgou encontrá-lo se uniu a ele para ter você. Esse príncipe que você chama carinhosamente de Pai, pode até não ser mais o príncipe dela, mas em algum lugar de seu coração a gratidão dela por ele ter lhe dado você, sempre existirá.
Quantas vezes ela não soube o que fazer quando você chorava. Em seu interior se questionava se estava sendo boa o bastante.
Como foi duro ter de dizer não quando você pedia um presente caro, algumas vezes era difícil atender todos os seus pedidos, mas aquele "não" que era tão duro aos seus ouvidos era tão dolorido no coração dela.
E quando você, no mercado, pedia infinitos doces, tão estrategicamente expostos aos olhos de uma criança, e ela, com o dinheiro apenas do pão, tinha que lhe explicar os motivos.
Todas as manhãs, quando ela saía para trabalhar levava consigo a esperança de poder lhe dar aquilo que ela não teve. O dia era longo e você não entendia porque precisava passar tanto tempo longe dela. A noite, quando você ainda queria brincar, essa mulher guardava seu cansaço e ia atender seus chamados.
Você não sabia, mas quando a chamava para levar você ao banheiro de madrugada, imaginando que era imune aos fantasmas e monstros, ela também temia o escuro.
Ela brigou com você para não falar palavrões, ela correu atrás de você pela casa com a vassoura na mão, ela gritou tão alto que todos da vizinhança escutaram, ela quebrou a porta do quarto, quando você ousou se trancar dentro dele e quase te atirou um prato de vidro na cabeça. Aparentemente atitudes de uma pessoa desequilibrada, mas ela tem “licença materna” para fazê-lo, para tentar fazê-lo um ser humano melhor.
Quantas vezes através de seus atos ela te mostrou que o mundo não estava aos seus pés, que as coisas nem sempre sairiam como você planejou e que era preciso acreditar em Deus e preservar a família. Hoje, quando você olha para trás e vê seu caminho, entende para que serviram os sermões.
Essa mulher precisou de muita coragem para suportar a vida. Ela precisou abrir mão de sua vaidade inúmeras vezes, precisou abrir mão de sua vida. Precisou fazer dupla jornada para te dar o que comer e para te fazer um adulto de sucesso. Não pensem que isso foi fácil, ela é uma mulher normal.
Aqueles sonhos da adolescência dela, ainda existem, mas há tempos ela deixou de sonhar seus sonhos, para viver os seus.
Não a chamem de heroína, de guerreira, de mulher maravilha. A chamem de mãe. É assim que elas gostam de ser chamadas. Nenhum outro nome poderia descrever tão bem aquilo que ela viveu uma vida inteira.
E querem saber se essa mulher, com poderes de voltar no tempo faria tudo diferente? Eu nunca perguntei para minha. Mas sinceramente, eu temo que não. Pois nada é mais gratificante nessa vida do que podar dar a  sua vida para que seu filho possa viver.
P.s: Mãe eu te amo.





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